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Tempo de leitura: 3 MinutosCerta vez um colega de profissão comentou que foi contratado por uma empresa como consultor para resolver um problema em um fileserver que estava impraticavelmente lento. A equipe de TI da empresa tentou, mas não conseguiu resolver a lentidão. Por haver uma equipe de TI local, deduziu que seria um problema complexo, então cobrou antecipadamente por quatro horas de serviços profissionais. Ele resolveu o problema em 15 minutos. O motivo era uma configuração que coloria a saída de tela e deixava o servidor lento. Configuração essa que fora feita pela própria equipe local de TI.
Em um outro caso relativamente recente, uma empresa prestadora de serviços para o Governo perdeu sua base de dados. Ao se ver na necessidade de recuperar a base, notou que não tinha backup em uma demonstração completa de ingerência de processos e falta de comprometimento do pessoal de TI.
Nunca como hoje os cenários descritos acima foi tão comum em empresas de TI. São muitas as que deixam de investir em corpo técnico para buscar soluções prontas no mercado, o que, na visão dessas empresas, reduz requisitos de operação e custos, mas na prática isso não é verdade.
É a tal “economia burra“, pois profissionais menos qualificados podem custar bem mais do que profissionais qualificados dada as grandes e pequenas perdas que podem causar, sem contar a perda da imagem e credibilidade da empresa.
Causa
Ao não capacitar seus profissionais com treinamentos ou simples planos de carreira, as empresas caminham eminentemente para a redução de nível técnico do corpo profissional. Essa redução de nível se dá, geralmente, pelos seguintes motivos:
1 – O profissional que segue carreira na empresa entra em uma espécie de inércia que o deixa ultrapassado em curto ou médio prazo;
2 – Outros profissionais que se vêem entrando nessa inércia acabam deixando a empresa para buscar novas oportunidades no mercado;
3 – Aqueles que se vêem crescendo na empresa percebem que há um limite de crescimento inferior as suas expectativas, então também vão para o mercado. Esses são os famosos talentos da casa, profissionais que se identificam com a empresa, conhecem bem sua cultura e tendem a seguir carreira, mas até certo ponto.
Com essas perdas, as empresas deixam de contar com pessoas realmente qualificadas, pois onde antes havia um profissional de carreira em TI, há o que chamo de “apertadores de botões“. E em termos práticos, se há um problema e há uma solução pronta, alguém aperta um “botão” que vai resolvendo ou empurrando problemas. Essa pessoa geralmente sequer sabe o que o “botão” faz, mas sabe que aquilo funciona para aquele caso específico.
Não entenda mal: Esses profissionais que aqui chamo de “menos qualificado” não tem parcela de culpa neste cenário. São frutos de um micro gerenciamento.
O dia a dia de uma operação de TI é muito complexo e conta com problemas técnicos que requerem análises específicas feitas por pessoas qualificadas. Aqui começam os problemas da empresa. Alguns desses problemas técnicos saltam aos olhos, como quando um sistema fica fora do ar por muito tempo devido a dificuldades no diagnóstico, pois faltou conhecimento/experiência ao pessoal. Contudo, há problemas menos nítidos como perda gradativa de performance em bancos de dados, rede saturada, sistemas desatualizados que, com o tempo, ficam vulneráveis, lentos, instáveis, entre outros. São situações que, aos poucos, vão ganhando maiores proporções e, para evitá-las, se faz necessário experiência. Ou seja, não há um “botão” para isso, nem mágica.
Observe que, em empresas cujo nível técnico é baixo, a ação da equipe de TI nunca é ativo, mas reativo. Ou seja, o problema ocorre, então alguém atua, e geralmente é “apertando um botão”. Já empresas com bom nível técnico fala-se muito em manutenção preventiva e melhorias para evitar falhas.
Resumo
Esse cenário é bem comum e acontece mais do que se imagina. A mudança de mentalidade das empresas só ocorre quando dói no bolso, e algumas dessas empresas não são tão grandes para se reerguer.
Em um mundo como a Internet onde o concorrente está há dois cliques de distância, falhar não é uma opção. Aqui, no entanto, quando há níveis técnicos baixos, a falha é questão de tempo, e quanto mais tempo demora para falhar, maior será o tombo.
Para as empresas, fica o alerta de que não há solução pronta para baixos níveis de conhecimento técnico. É preciso investir em pessoal proporcionalmente aos investimentos em melhoria da infra. O investimento em questão pode ser praticado por meio de adoção de planos de carreira com incentivos de crescimento, melhores salários, cursos, palestras, eventos e seminários indicados pela empresa, além da valorização de certificações e remuneração que corresponda ao desenvolvimento do profissional.
No mais, a inércia é inevitável.